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2020

Eram 10 horas da noite de uma quarta-feira qualquer. Eu voltava pra casa e resolvi parar numa velha padaria conhecida do bairro pra comer alguma coisa. Não se passaram nem 5 minutos e entrou pela porta, vindo em minha direção, meu amigo Tampa, que eu não via há mais de 20 anos. Seu nome era Carlos Coutinho, mas ganhou o apelido desde muito novo, porque abria as garrafas de refrigerantes, Guaraná, Crush, Grapette, com os dentes! Sempre foi muito engraçado e tinha um jeito especial de contar estórias que prendiam a atenção imediatamente. Eu fui logo cumprimentando:

– Ô pai, preciso conversar com você…

– É problema de sexo, filho? Ele me respondeu, recordando sua história particular, contada há mais de 40 anos.

Caímos na gargalhada e ele engasgou, tossindo forte e fazendo voar pelos ares o pivô dos dois dentes da frente, que saíram quicando pelo chão como uma bola de pingue-pongue, com o Tampa correndo atrás rindo desesperado. Quando conseguimos voltar a respirar normalmente, falamos um pouco sobre a vida, o que cada um vinha fazendo, até que ele apontou para sua mesa, onde uma mulher o esperava. Nos despedimos com as promessas de sempre, manter contato e coisa e tal.

Quando me voltei para o meu lanche no balcão, notei uma jovem me encarando, que logo em seguida perguntou:

– Você conhece o Tampa?

– Sim, respondi, há mais de 40 anos e…

– Ele é um grande sacana. É meu pai.

Num segundo toda minha dispersão e alegria voltou-se para o olhos daquela bela moça, tristes e amargurados, quase revoltados, em busca de respostas que não lhe dera a vida. Refleti sobre nossa criação, a maneira como fomos despreparados para a vida, nossos pais totalmente atarefados, buscando o sustento da família com suor, muito suor… A sexualidade era tabu e sua educação era conseguida nas ruas, nos relatos dos garotos mais velhos e nos livrinhos de catecismo. Crescíamos poderosos, cheios de vontade e testosterona, inconsequentes e sem nenhuma responsabilidade sobre os sentimentos alheios, gravidez interrompida ou vidas que vingassem. Avaliei o que teria sido minha vida se eu tivesse tirado a sorte grande, ganhasse um bebê indesejado, parido pela dona qualquer de um desejo meu. Senti alívio, senti compaixão. Tentei explicar para aquela moça quanta beleza existe nesta vida, que é um presente, que seja qual for nosso histórico, a qualquer momento podemos tomar a decisão de tomar as rédeas em nossa mãos e conduzir nosso destino em direção à realização e à felicidade. Esta é simples, inerente, está dentro de nós e cabe a cada um torná-la verdadeira.

Ela me olhou como quem diz, você está falando isso porque quer defender seu amigo, virou-se e saiu para a noite quente e mal iluminada. Seguirá seu próprio caminho, único entre mais de 7 bilhões de seres humanos na face da Terra, e nada, a não ser ela mesma, poderá compreender o significado desta passagem, a gloriosa experiência de ser uma parte, infinitamente pequena deste todo, infinitamente grande, inteligente e bom. Que é através dos olhos dela que ele se vê, cria e se admira, fazendo criador e criatura um só, indivisível.

Paguei e saí do local, acenando à distância para meu amigo, que retribuiu o aceno com um sorriso largo, destacado pelo vão dos dois dentes da frente que ele ainda não havia recolocado no lugar. Provavelmente sem saber que era dele mais uma filha deste mundo, porque nunca quis saber ou não teve a chance. Eram os anos 60/70, cheios de pouca informação, sexo, drogas e roquenrol.

Hoje seria diferente. Os pais conversam com seus filhos sobre todos os assuntos, preparando-os para viverem em sociedade com respeito e amor ao próximo. As escolas, desde o ensino fundamental, possuem em seus currículos disciplinas que tratam de aspectos fundamentais para a compreensão da nossa sexualidade e desenvolvimento com habilidade e capacidade pedagógica, preparando os futuros adolescentes para os momentos de transformação da puberdade. O resultado é que nossos jovens chegam às universidades conscientes e bem informados, capacitados para tomar as decisões que moldaram suas carreiras profissionais e as escolhas afetivas para a formação de núcleos familiares harmoniosos.

Benditos anos 2020!

CaMaSa

A Praia

Ele era um anjo, desses comuns. Nem angelicalmente belo, nem humanamente feio, era assim mediano, desses que nos passam despercebido, em presença e em missão. Vivia sua eternidade tranquilamente, aguardando a chance e oportunidade de realizar algo simples, bem feito e bom. Não que ele invejasse os demais anjos, pois estas não são características apropriadas, mas muitos haviam sido chamados à grandeza das obras divinas, operando milagres e liderando exércitos no combate à guerra, ao mal e ruim. Tamanha era a função e capacidade de uns, que quase haviam sido tocados pela humanidade, tendo alguns homens e mulheres deles tido um vislumbre, um sonho, uma visão ou ilusão. Todavia nunca os haviam representados fiéis à sua aparência, desenhando-os das mais inexatas formas e cores, sem chegar minimamente perto enfim.

Um dia, no entanto, da sua inatividade foi interrompido, chamado às pressas por um superanjo do mais alto escalão. A infraestrutura celestial é extremamente complexa, com inúmeras divisões e subdivisões, departamentos e subdepartamentos, hierarquias e sub-hierarquias, entrelaçadas e intercomunicadas por vias expressas de velocidade superior à da luz. Responde-se a um chamado num piscar de olhos, quase antes mesmo de ser chamado! Lá estava ele então, sentado numa cadeira alta de espaldar baixo, brilhante de lixada, diante de uma mesa enorme em forma e cor de concha do mar. Ele olhava fixamente para o anjo do lado de lá da mesa, que parecia ignorar sua presença, atarefado que estava por milhões de compromissos representados por pilhas e pilhas de folhas coloridas, dispostas de maneira milimetricamente organizadas sobre o tampo. Assim se passaram algumas centenas de anos, na forma de alguns segundos, até que o superior parou de fazer o que estava fazendo e olhou fixamente para ele, naquilo que pareceu ser apenas alguns segundos, mas que na verdade eram milhares de anos.

– Deixe-me ver… aqui está! 

Ele retirou uma folha azul claro bem do meio de uma das pilhas e passou para o outro anjo. Bem no meio da folha, em letras decoradas maiúsculas e douradas estava escrito: P R A I A.

O que significava isso, ele pensou… Será que eu vou ser um salva-vidas, desses que socorrem banhistas distraídos? Provavelmente vou faxinar, limpando alguma praia repleta de detritos e poluição. Não era nada imaginável. Num piscar de olhos ele se viu num lugar tenebroso, escuro e gelado, com estrondos assustadoramente altos ecoando de um lado de um mar absurdamente bravo e poderoso e, do outro lado, paredões gigantescos de pedra negra, cuspindo fogo e lava derretida sobre as águas, e fumaça, cheia de fuligem e enxofre a milhares de quilômetros de altura. Se isso era uma praia, melhor seria não conhecer o inferno!

Anjos não foram feitos para questionar ordens, mas para executar. Se essa era sua missão, ele encontraria uma forma de fazer daquele lugar o mais agradável possível, nem que levasse meia eternidade para concluir. Pelo que pôde perceber naquele momento, estava num planetoide em formação, o terceiro em distância de uma pequena estrela chamada Sol. Era a Terra, bilhões de anos antes do primeiro primata erguer-se sobre os membros inferiores, cerrar os olhos para enxergar melhor o ponto mais distante no horizonte e proclamar: – Um dia tudo isto será meu! 

Avaliou os recursos disponíveis, arregaçou as mangas e pôs-se a escolher cuidadosamente os materiais para a composição de sua tarefa. As rochas e lavas vulcânicas formavam escarpas profundas e pontiagudas, terríveis como bocas espectrais cheia de dentes caninos dilacerantes. O mar lançava contra as encostas tsunamis diários que explodiam violentamente contra o granito de dureza incalculável. Dessa batalha épica e insana, ele recolhia fragmentos mínimos, grãos de areia de formas, cores e transparências diversas, empilhando um a um, num encaixe suficientemente flexível para manterem-se unidos em constante movimentação. Passavam-se milhares de anos, até que um maremoto de proporções inéditas ou uma explosão vulcânica dos mais profundos magmas terrenos, descontruíssem ou cobrissem seu trabalho, que era reiniciado com toda paciência com uma nova reconstrução, em bases mais sólidas e definidas. Aos poucos, dentro da lógica de tempo dos anjos que mistura séculos e segundos, o mar ia se acalmando, enquanto as montanhas iam se aplainando numa inclinação cada vez mais suave, como se ambos passassem a se respeitar inteligentemente.

Assim que, cada grão agora era encaixado no cenário de forma cada vez mais rápida e resplandecente, uns mais ao fundo, em contato permanente com as águas salgadas, outros mais salientes, leves, claros e finos o suficiente para serem levados de um lado para outro pelos ventos, numa dança constante de sutis movimentos. O mar agora de águas claras, em tons de azul, verde e lilás, lançava pela evaporação águas filtradas e doces pelas nuvens como chuva, regando a terra de esperança e plantas verdes. 

Nesse cenário tão bonito, exausto e cansado, deitou-se enfim o nosso anjo para um cochilo, que pareceu durar milhões de anos mas foram alguns segundos. Ao abrir seus olhos novamente estava diante do superanjo que os parabéns lhe dava. Compreendeu na mesma hora que seu trabalho seria para os seres que pusessem os pés sobre ele. Que ao olhar e sentir na pele cada grão daquela praia, sentiriam agradecimento e prometeriam conservar para sempre aquele paraíso, chamado Terra, com todo amor e paixão.

CaMaSa

Amazônio

São coisas da nossa infância. As primeiras aulas de geografia com o mapa do Brasil destacado no mapa-mundi. Para mim parecia uma espécie de animal enorme e estranho, reforçado pela boca feita do corte em V do Acre. Na época tínhamos estados e territórios, dividindo o país em regiões compreensíveis e próximas, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já estudadas nas aulas de História, e outras distantes e exóticas, todo norte e nordeste, e o sul, mais frio e produtivo.

Escrevo ficção, baseada nas impressões de um aluno de primeiro grau, antigo curso primário, e não em fatos e dados comprovadamente científicos. Portanto, me acompanhe nesta narrativa por sua conta e risco. 

Naquele tempo eu estudava num colégio estadual, o Antônio Firmino de Proença, e tínhamos uma estrutura completa com aulas de português, matemática, história, geografia, química, biologia, francês, inglês, filosofia, moral e cívica, artes, música e educação física. Era feito um exame admissional para estudar ali, o que tornava o espaço muito democrático, frequentado por todos os extratos sociais e culturais, com crianças e adolescentes de várias descendências. Só os mais inteligentes ou muito esforçados mantinham-se no colégio. Aqueles que não conseguiam acompanhar as disciplinas, e tinham recursos, transferiam-se para os colégios particulares, mais fracos ou que ofereciam alternativas para que os alunos pudessem avançar de um ano para outro.

Me pergunto o que teria acontecido com nosso país de lá pra cá? Seriam os pós-revolução militares, os centro-esquerda de transição ou os esquerdas sem noção os causadores da derrocada? Não éramos o país do futuro? Não tenho respostas. Sinceramente não tenho base para discutir política, deixo para os milhões de especialistas surgidos nas redes sociais nos últimos anos, capazes de interpretar, julgar e condenar os agentes sócio-políticos do Brasil e do mundo. Eu realmente não consigo julgar ninguém sem calçar seus sapatos, sem ter a totalidade dos dados e fatos que o levaram a tomar suas decisões. Deixo para a justiça precificada dos homens e a consciência divina de cada um, o castigo que lhe compete.

Nosso professor de geografia explicava que o rio Amazonas recebeu esse nome por conta da lenda grega das Amazonas, mulheres guerreiras seminuas, talvez tão guerreiras, e muito menos nuas que as índias nativas, nossas icamiabas (aquelas que não têm seio), que desfilavam pelas florestas à época do descobrimento. Terra de sonhos! Muitos se aventuraram por suas matas virginais, estendidas do oceano Atlântico aos pés das intransponíveis cordilheiras dos Andes, em busca de ouro e riquezas inconcebíveis, brotando do solo, ao alcance das mãos. A maior parte encontrou malária, febre amarela e pestes diversas, dando em troca gripes e resfriados mortais para os nativos.

A sanha exploratória, nacional e internacional, só aumentou desde então, encontrando as mais justas e inconcebíveis justificativas para seus discursos e atos. Um país europeu tem o direito de legislar sobre seu território, ou deve permitir que organismos internacionais opinem sobre a utilização de seu território e recursos naturais? Queima de petróleo e carvão são justificáveis para locomover e aquecer? O custo ecológico deve ser questionado em contraponto à sobrevivência dos habitantes dos países gelados da região? A ocupação agrária consciente e sustentável da Amazônia, capaz de eliminar a fome e miséria no Brasil, interessa a alguém? Ela é nossa? A resposta a esta pergunta define sua visão de mundo.

Não existem países e fronteiras. Não existe nada que possamos apontar e dizer, isto é o Mundo. Existem seres humanos coabitando esta esfera orgânica, viva e auto regulável, que chamamos Terra. Como parte integrante deste fantástico ecossistema, temos um papel a cumprir: podemos ser uma excrescência doentia a provocar destruição total ou a ser expurgada, ou um benéfico organismo de realização e expansão universal. O futuro dirá.

CaMaSa

Eu, Hacker

Confesso e já vou me declarando culpado, aceito a condenação, uma vez que se trata de crime indesculpável.

Segundo o Michaelis, hacker é o Indivíduo que se dedica a entender o funcionamento interno de dispositivos, programas e redes de informática com o fim, entre outras coisas, de encontrar falhas em sua segurança ou conseguir um atalho inteligente que possa vir a resultar em um novo recurso ou ferramenta. A raiz da palavra é hack, e dela temos inúmeros significados:

Hack1
Nome:
corte, entalhe, fenda, brecha.
contusão ou ferimento causado por um pontapé (futebol), canelada.
enxada, picareta.
tosse curta e seca, tossidela.
Verbo transitivo + verbo intransitivo:
cortar, talhar, entalhar, picar, golpear.
dar um pontapé (em futebol) ou canelada.
estropiar (a língua).
tossir (seco).

Hack2
Nome:
(Britânico) cavalo de aluguel, cavalo velho ou de uso geral.
(Americano) carro de aluguel, táxi.
Verbo transitivo:
montar (um cavalo alugado).
alugar (um carro ou táxi).

Hack3
Nome:
(Gíria) picareta, charlatão: profissional incompetente e antiético (médico ou advogado).

Daí surgiu o termo ciberpirata, indivíduo com sólidos conhecimentos de informática que invade computadores para fins ilegais como, por exemplo, fraudar sistema telefônico, copiar programa de computador ou material audiovisual, fonográfico etc., sem autorização do autor ou sem respeito aos direitos de autoria e cópia, para comercialização ou uso pessoal; cracker, hacker, pirata eletrônico.

Difícil de defender!

Muitos alegam questões ideológicas, partidárias, humanistas. Alguns afirmam que os fins justificam os meios, que na guerra vale tudo, que é necessário um grupo esclarecido de privilegiados para conduzir a massa ao paraíso, que a fome está acima das leis… Nada que justifique, claro. Roubar é roubar e ponto final. Não deveria haver dúvida sobre questões éticas e morais. No fundo sabemos o que é certo e errado, independente da cor que se dê ao fato. Para mim tudo é completamente transparente, fácil distinguir o preto no branco…

A menos que se trate do Palmeiras. Aí minha vista fica turva, os julgamentos embaçam, vejo o adversário como inimigo a ser batido, esmagado e destruído. Só interessa a vitória, sempre. A qualquer custo. Compre-se o juiz, abaixe-se a bandeirinha, quebrem-se canelas, cuspa-se no outro. Suborno, enganação e corrupção, tudo a serviço de mais um campeonato… e outro… e mais outro… e todos, para sempre!

Escrevendo isso vejo quanto é ridículo o fanatismo radical. Como se o fanatismo não fosse radical e vice-versa. São paixões, e elas nos cegam. Não permitem isenção de julgamento, pois estão comprometidas com princípios e fundamentos não questionáveis. Você deve aceitar somente a cor verde, caso contrário não é um dos nossos. É inimigo.

Como hacker, não invadi sistemas de segurança complexos, de governos ou bancos, a estrutura científica da Nasa e os planos para levar o homem além do sistema solar, os segredos do Vaticano e museus. Nem a privacidade de autoridades e celebridades. Reis, Princesas, Presidentes e Ministros, artistas e aspirantes à sub-celebridades. Não hackeei o celular de ninguém, pois sempre me perguntei se eu gostaria que invadissem minha privacidade, soubessem quanto devo no banco, lessem as mensagens de amor e amizade que envio aos que quero bem, descobrissem o quanto sou fraco, normal, simples e humano.

Na realidade avancei sobre um território proibido mas acessível, assustador mas amoroso, escuro mas brilhante. Nele os que entram não voltam, os mesmos. Mutam-se em seres de alguma forma melhores, deixam lá dúvidas e temores. Lá encontram respostas para perguntas não feitas e sentem a paz das estrelas. Eu hackeei o coração do homem, cheio dessa energia que chamam de Deus, criador de todos e de ninguém, de quem acredita e de quem não vê.

Assim sendo, não tenho outro recurso além de aceitar que a justiça seja feita, me aplicando o maior dos castigos: não encontro compradores de tesouros tão valiosos. Sou condenado a voltar de dentro, espalhando a quem quiser saber essas informações tão preciosas, que ao serem proclamadas pela minha boca em alto e bom som, claras e cristalinas, aos olhos de quem escuta e ouvidos de quem lê, transformam-se em poesia.

CaMaSa

Arca de Nós

Essa consciência ecológica fortemente desenvolvida nas últimas décadas e nossa proximidade com os animais domésticos, principalmente cães e gatos, nos sensibiliza em relação à toda a flora e fauna selvagem. Todos, exceto o homem, vivem em harmonia com a natureza ocupando seu lugar na cadeia alimentar. Devoram-se uns aos outros naturalmente, sem causar desequilíbrio e colocar em risco a integridade do planeta.

Escrevo sem base científica, são reflexões baseadas na minha experiência. Mas há realmente lugar para um elefante que come 125 quilos de plantas, capim e folhagens, e bebe 200 litros de água por dia, na sala de sua casa? Sua tromba suga 10 litros de água de uma só vez. Ele defeca 60 quilos excrementos e urina 120 litros. E um rinoceronte? Ele passa praticamente metade do dia comendo… Um hipopótamo pode consumir 68 kg de grama a cada noite. Que tal uma girafa de 6 metros de altura? É um animal herbívoro que se alimenta, principalmente, de folhas de acácias, uma planta com grande quantidade de espinhos. Como as girafas são dotadas de uma língua flexível de aproximadamente 46 centímetros, a retirada das folhas é feita de maneira bastante segura. Esse animal come em média 34 quilos de alimento por dia, passando a maior parte do tempo alimentando-se. Todos exigem grandes áreas selvagens para viver e procriar. Multiplique esses números por leões, tigres, ursos, cobras e lagartos, búfalos, gnus, águias, baleias e focas. Nenhum, absolutamente nenhum, disposto a dividir território com os seres humanos.

E o que dizer dos insetos? Milhões de gafanhotos devorando plantações e tudo que for verde! Larvas, pulgões, cochonilhas, formigas, cupins, todos devorando toneladas de alimento a cada minuto. Os ácaros seriam insetos? Temos pernilongos, mosquitos, pulgas, piolhos, percevejos e outros, sugando nosso sangue! Teríamos vencido essas lutas sem o engenho e a tecnologia humana? Graças a Deus não estávamos por aqui quando os dinossauros andavam livres e pesadamente sobre a Terra. Seria quase impossível fugir de um Tiranossauro faminto ou das garras de um pterodáctilo voador.

Amo os animais, de paixão. Não sou capaz de matar uma formiga, pois vejo nessa minúscula criatura a manifestação da mesma energia que sustenta planetas e estrelas. Ao mesmo tempo não tenho problemas de consciência quando como um frango, um peixe ou um bife. Fui criado com a compreensão de que devemos nos alimentar do que nos é oferecido, questão de sobrevivência. Torço para que encontrem uma solução de coexistência entre nós e eles, mas pobres dos nossos queridos irmãos animais… Entre um lindo e branquinho bebê foca e um frágil filhote humano, não haverá dúvida. Não há espaço para todos na arca da evolução. Só os mais adaptáveis resistem, e adaptação é a qualidade em que o bicho homem é o grande campeão! Somos imbatíveis nesse quesito, ainda que insistimos em nos ver como um personagem à parte, não natural. Não só somos parte integrante, como elemento fundamental do equilíbrio presente. Ele é resultado da nossa intervenção, através da nossa natureza tecnológica, no mundo e tudo que nos cerca.

Uma lógica divinamente absurda colocou o homem no planeta na hora certa e reserva para ele um plano perfeito, em execução. A acelerada evolução tecno-científica das últimas décadas comprova esse planejamento. Ahh… mas e as abelhas? Somos capazes de criar uma polinização artificial? Sim. Somos capazes de produzir alimentos sintéticos e suprir as necessidades de toda população mundial? Sim. Somos capazes de viagens interplanetárias e explorar o Universo? Sim. Compare os primeiros anos da corrida espacial com os dias atuais. Imagine um século adiante… E daqui a 1.000 anos?

A verdade é que somos os escolhidos. Existe vida fora da Terra? Talvez. Vida inteligente? Talvez. Mais avançados que nós? Provavelmente não. Se o fossem, já nos teriam visitado, para o bem ou para o mal. Até o momento estamos sós. Não há nenhuma prova real, somente divagações e teorias. É difícil para nós. Somos as últimas gerações de perfil absolutamente terrestre. Em breve, formaremos populações voltadas para a conquista do espaço infinito semeando, em milhões de bilhões de planetas habitáveis, as sementes cuidadosamente cultivadas neste pequeno planeta azul do sistema solar, chamado Terra.

CaMaSa