fbpx
(5511) 2601-4128 contato@camasa.eti.br
Escolha uma Página

Brigas

Roubil

Recentemente foi anunciada com grande estardalhaço a luta entre um ex-boxeador campeão mundial e um ex-big brother fanfarrão. A publicidade exaltava o caráter conflituoso do embate, muito mais uma briga de rua do que um combate pugilístico, definido por regras específicas. A tal luta do século terminou de forma vexaminosa em 36 segundos, com um dos oponentes estatelado no chão. Eu não vi, mas a enxurrada de vídeos e memes replicados nas redes sociais, me trouxe à lembrança brigas verdadeiras, dessas de partir narizes e corações. Uma em especial aconteceu debaixo do meu nariz, ou melhor, sobre mim, nos meus tenros e inocentes primeiros anos de vida. Havíamos recém mudado para um novo endereço, numa rua qualquer da Mooca, próximo ao centro da cidade de São Paulo. O imóvel alugado era um pequeno galpão no andar térreo de um prédio de 3 andares, o Edifício Marly, onde meu pai instalou sua marcenaria. Nossa moradia era nos fundos, um quarto, sala e cozinha, bem apertados.

Meu pai era um excelente artesão marceneiro. Ele não tinha, digamos, delicadeza, seus móveis eram maciços e pesados, feitos para “durar para sempre”. Aprendeu o ofício em sua terra natal, num pequeno vilarejo da Itália, no alto de uma montanha, na província de Salerno, ao sul de Nápoles. Teve como mestre um paisano que o arrastou para o Brasil anos mais tarde, em busca de sonhos de riqueza. Ou pelo menos de comida na barriga. Já era casado e deixou para trás minha mãe, grávida da segunda filha, e a minha irmã mais velha, então com 3 anos. O pós-guerra deixou a parte mais pobre da Europa sem esperanças e ele acabou embarcando numa aventura sem volta, atravessando o Atlântico num navio escuro e enferrujado em direção a uma terra distante e desconhecida.

Quando aqui chegou, fez o que qualquer jovem cheio de energia e mal orientado faria. Meteu-se em confusões cada vez mais complicadas, até que minha mãe, desesperada e muito mais consciente, veio em seu socorro com duas crianças a tiracolo, livrá-lo das malhas do destino das quais ele mesmo teceu e se enrolou. Evidentemente, depois de 3 anos e meio tinham muitas contas para acertar, muita mágoa enraizada difícil de arrancar do peito. Do silêncio raivoso e velado, passaram às cobranças dolorosas e às ofensas explícitas. A pouca cultura era facilmente suplantada pela necessidade de respostas a perguntas que jamais seriam completamente respondidas, e os bate-bocas iam tornando-se cada vez mais altos, à medida que o molho de tomates para o macarrão feito em casa subia na panela e borbulhava, preenchendo a pequena cozinha onde se almoçava e jantava, com um aroma suave e saboroso, saudoso de Itália.

Nesses momentos em que a gritaria ganhava cada vez mais volume, eu, aos 5 para 6 anos de idade, pegava meu caderno e me escondia debaixo da mesa para fazer a lição de casa. Essa é minha primeira lembrança do entendimento do que meu pai fazia para nos sustentar. A mesa tinha o tampo de fórmica verde-água, com minúsculos pontinhos dourados brilhantes. Era a novidade americana dos anos 50 que havia chegado ao Brasil dos anos 60. Os pés eram de madeira maciça com 90 centímetros de altura, cônicos, com cerca de 12 centímetros de diâmetro no topo e afinando para uns 5 centímetros na base. Pintados com alguma espécie de tinta preta, própria para a madeira. Estavam firmemente fixados ao tampo em sapatas de madeira com muita cola e parafusos, impossível de soltar.

Era embaixo dessa obra de arte robusta, marca registrada do meu pai, que eu resolvia as primeiras contas aritméticas aprendidas no primeiro ano primário, à meia luz difusa sob a mesa, enquanto do lado de fora da minha cabana improvisada os gritos e xingamentos atingiam decibéis muito acima do tolerável. Absorto nos meus cálculos de complexidade infinita, eu me apartava da confusão entre meus pais, sem absorver nada do que se diziam um ao outro. Nem percebi quando a certa altura, o molho cansado de ferver e gemer, agarrou-se ao fundo da panela, queimando um pouco. Seja porque os nervos estavam à flor da pele, ou porque os sonhos de riqueza haviam se transformado num pesadelo de desilusões, ou porque o cheiro de tomate queimado lembrou seu estômago de que a fome não seria justamente aplacada naquela noite, meu pai atirou a panela com violência contra a parede de azulejos brancos, amarelados pelo tempo.

O molho fervente espalhou-se pela parede como sangue borbulhante de raiva. O barulho do impacto, ao invés de arrefecer os ânimos, multiplicou o ódio dos corações ressentidos. Diante da situação desoladora e encurralado pelos gritos de minha mãe, meu pai fez exatamente o que lhe cabia naquele momento: arrancou um dos pesados pés da mesa e golpeou com ele várias vezes o tampo de fórmica. Eu, alheio a tudo que se passava, despertei do meu estado de torpor estudantil e saí às pressas do abrigo que desmoronava sobre minha cabeça. Surpresos e espantados com minha aparição em cena de modo tão estapafúrdio, meus pais pararam imediatamente a discussão. Corri para os braços de minha mãe, que me acolheu com seu manto de proteção, como só as mães sabem fazer. Um misto de alívio e paz invadiu o pequeno recinto e eu fiquei com a sensação que poderia ser um portador de paz a todos os conflitos, através da minha imparcialidade, distanciamento e calma.

Não que naquela época eu tivesse alguma ideia do que pudesse ser imparcialidade, distanciamento ou até mesmo calma. Conceitos que foram sendo absorvidos e compreendidos durante a jornada de toda uma vida. Mas são as primeiras lembranças e impressões fixadas na memória, mesmo 60 anos depois. Para minha sorte, não me lembro dos conflitos anteriores, que talvez tenham sido muito piores do que esse. Deus, em sua infinita bondade, poupa os pequeninos dos gritos, discussões e agressões verbais, tão doídos como tapas na face ou socos no estômago, para que não os carreguem pela vida como traumas sem explicação. Há o Bem e o Mal em nossos corações. Escolhamos o Bem. Falemos baixinho uns aos outros, como num sussurro de amor e compreensão. As crianças agradecem.

CaMaSa

O Crime da Irmã Amara

Roubil

Esta é uma estória do tempo em que as fofocas eram ditas a boca pequena, ainda não existia internet e redes sociais, e as pessoas, entre as quais padres e freiras, não podiam amar livremente. Ela é, como sempre, baseada em trechos de conversas interrompidas, sem conclusão, um ou outro nome meio esquecido, uma ou outra palavra perdida nos vãos da memória e da confusão. Ouvindo essas coisas entro numa espécie de transe, ouço atento nem pisco, olho a pessoa mas já não estou lá. Vejo-me entre os personagens descritos, vagueio entre eles sentindo seu cheiro, seu gosto e suas cores. Claro que trocarei os nomes dos envolvidos, nossa freira não se chamava Amara e, pelo contrário, ela era muito doce e gentil. 

O colégio, palco do nosso drama, também não se chamava Colégio Divino Coração em Chamas e para ser o mais verossímil possível, digo que se localizava em São Paulo, em bairro nobre e elegante. Pelos extensos corredores de ladrilhos hidráulicos absurdamente limpos, polidos e brilhantes, circulavam diariamente alunos, professores, serventes e funcionários da administração, todos e tudo regidos com mão de ferro pelas freiras Marianas. Cada setor da escola, da biblioteca ao jardim, tinha uma irmã responsável pelo gerenciamento das atividades de cada funcionário contratado e nada fugia desse controle. Lâmpadas, fechaduras, carteiras, bancos, lousas sempre limpas para as aulas do dia seguinte, com a quantidade exata de giz a ser usado de acordo com a matéria, exaustivamente preparada pelos professores e supervisionada pela freira encarregada da correspondente disciplina. Os fundamentos cristãos eram cuidadosamente inseridos nos conceitos científicos, permeando todas as disciplinas, da Matemática à Língua Portuguesa, da História à Geografia, da Física à Química, do Francês ao Latim. Isso não desmerece tais fundamentos, vez que são aplicados por seres humanos humanos sujeitos a erros como qualquer um, ainda que freiras. Errare humanum est, perseverare autem diabolicum!

Entre erros e acertos (milhares de acertos para pouquíssimos erros), dedicavam-se aos serviços na Secretaria do colégio, duas jovens irmãs recém-casadas, cujos filhos Laís, Pedro e Paulo, de Ana, e Rita e Lúcia, de Joana, puderam frequentar uma escola de tão alta qualidade, devido ao trabalho das mães. Ana deslocava-se com seu Fusquinha pela cidade aos primeiros raios do Sol, levando consigo as cinco crianças. Uma escadinha de 10, 9, 7, 6 e 5 anos. Começava o trabalho às seis horas da manhã e terminava o turno ao meio dia. Ana deixava o carro para Joana e voltava de condução. Sua irmã dava início então, indo até às seis da tarde e voltava para casa com as crianças que passavam o dia na escola, entre aulas, estudos, tarefas e períodos de inatividade. Num desses períodos ociosos, o pequeno Paulinho, arteiro da planta dos pés até a ponta dos cabelos loiríssimos, quase platinados, deixou irmãos e primas estudando na biblioteca com a desculpa que ia ao banheiro. Seguiu pelo corredor vazio, desceu as escadas e foi em direção ao imenso jardim interno, nos fundos do colégio. Gostava de vaguear entre as árvores frutíferas do pomar, caçando mangas maduras no pé. Avistou uma amarelinha no alto da copa e trepou rapidamente por entre os galhos. O fruto soltou fácil, com um leve puxãozinho. Deu a primeira dentada e puxou a casca com os dentes, sentido o perfume delicioso exalado. Nesse exato momento ouviu um barulho. Passos e vozes aproximaram-se afobados do tronco da mangueira. O menino ficou em silêncio, prendeu a respiração para não ser descoberto. Reconheceu a irmã Rosinha, seguida pelo motorista da escola, o Tobias. Os dois se abraçaram bem abaixo do garoto estupefato, agora de olhos arregalados. Quando os amantes se beijaram, suas mãos perderam as forças e a manga escorregou entre os seus dedos, indo se estatelar na cabeça do motorista!

Tobias nem teve tempo de levar a mão à cabeça. Paulinho perdeu o equilíbrio e caiu por cima do pobre, rolando os dois pelo chão. Não se sabia dizer qual dos três estava mais surpreso e assustado. O menino pela confusão, a freira pelo constrangimento ou o motorista que pensava estar sendo punido por Deus! O casal, refeito do susto, encontrou uma rápida solução. Ralharam com a criança, ameaçando-o com o castigo divino caso ele falasse com alguém sobre coisas que ele imaginava ter visto e, por trepar em árvores pondo a vida dos outros em perigo, seria trancado no barraco de ferramentas da irmã Amara, responsável pelo jardim. E lá ficou o garoto trancado no escuro, sozinho, com medo e arrependido de ter visto coisas que não compreendia e não deveria ter visto. 

Joana procurou o sobrinho por todo o colégio com o auxílio dos demais funcionários e freiras, até que finalmente chegaram ao pequeno depósito de ferramentas. Abriram a porta que estava trancada por fora com um simples trinco e encontraram Paulinho sentado no chão, o rosto entre as pernas, chorando baixinho. O menino não falava nada, estava completamente mudo, sem explicar como havia sido trancado lá. A tia concluiu que ele havia feito alguma traquinagem e a irmã Amara castigou seu sobrinho, trancando-o no pequeno galpão. Procurou a freira para saber o que havia se passado, mas soube que ela e a irmã Rosinha haviam sido levadas pelo motorista Tobias ao Mappin, no centro da cidade, para fazer algumas compras. Reuniu a criançada, embarcou todos no Fusquinha e voltou para casa ao encontro da irmã. Resumiu em poucas palavras o que havia ocorrido e entregou o garoto aos cuidados da mãe. 

Ana não conseguiu arrancar explicação alguma do filho e prometeu que no dia seguinte tiraria essa história a limpo. Não conseguia pregar os olhos. O que mais lhe doía era a traição. Amava a irmã Amara, sempre carinhosa com as crianças, sempre disposta a ajudar, amiga e verdadeira, uma grande inspiração. Como ela podia ter feito isso? Passou a noite acordada pensando no que diria à freira. Acusaria, ofenderia e ameaçaria ir à polícia. Não foi necessário. Ao acordar no dia seguinte, encontrou o marido imóvel, xícara de café suspensa no ar, diante da televisão. O jornal da manhã noticiava o caso da freira que na tarde anterior havia sido presa por furto no Mappin. Ela havia sido pega roubando uma calcinha, escondida em seu hábito. Era a irmã Amara!

* * *

Naquela tarde, depois de trancarem o menino no galpão de madeira, Tobias e a irmã Rosinha encontraram a irmã Amara em frente ao colégio. As duas foram encarregadas de comprar toalhas e guardanapos de linho para a mesa de jantar do restaurante oficial, reservado a visitantes ilustres. Irmã Amara sentou-se no banco da frente ao lado do motorista e não percebeu quando este e a noviça de vinte e poucos anos, metade de sua idade, trocavam olhares apaixonados e suspeitos. Eles haviam decidido, em parte pela tensão ocorrida horas antes, em parte porque a paixão já não cabia em seus corações, fugir para o Rio de Janeiro e dar início a uma nova vida juntos. Rosinha sentia vergonha de consumar seu amor pela primeira vez, usando calcinhas largas e puídas de linho grosso que compunham a vestimenta das freiras. Imaginou entregar-se desnuda, mas considerou isso um pecado. Circulando pela loja, ao passar pela seção de moda feminina, pegou uma calcinha vermelha de rendas e, temendo ser vista, enfiou rapidamente no bolso da companheira sem que essa percebesse.

Flagrada, assustada e absolutamente inocente, sem entender o que estava acontecendo, irmã Amara foi fichada e condenada, sendo preciso a intervenção de advogados da arquidiocese paulistana para liberá-la da prisão. Foi transferida para uma pequena e desconhecida diocese no interior do Estado, no meio de uma enorme fazenda, onde pôde cuidar de plantas e flores. Quanto a Rosinha e Tobias, tiveram seis filhos, seguindo fielmente o preceito cristão: “Crescei e multiplicai-vos”.

CaMaSa

Ladrões

Roubil

A dor da fome é cruel. Não estou falando da inanição, que tira todo ânimo e te derruba no chão, sem forças para lutar. Falo da fome que ronca dolorida no estômago, amaldiçoa a existência e te faz um ladrão. Ele perambulava pela vida há pelo menos trinta e poucos anos, pisara terras roxas, secas, agrestes e espinhosas, os macacos de pedra, os cimentos e os asfaltos escuros de todo este país. Já não tinha mais laços, família e amigos, nem nome ou identidade. Era só um fantasma em forma de gente, um conjunto de ossos forrado por uma pele fina, queimada de Sol e lavada de chuva. Os vira-latas famintos das ruas, com os quais disputava os restos de comida nos lixos, tinham mais carne e gordura que ele.

Não cabe aqui sua história explicando os erros que o trouxeram até aqui. Talvez tenha sido somente um, grande o bastante para afogar-se na culpa sem fim, sem volta e sem perdão. Aqui estava, cumprindo seu destino, diante dessa casa bonita, de sonho, do outro lado da rua, com cerca pintada, gramado verdinho pincelado com flores coloridas, amores-perfeitos lindos de viver. De vez em quando, passando pelas vitrines das lojas, via nas telas das televisões casas como aquela, cheias de vida, felicidade e comida. Nessas horas sua boca aguava de vontade, babando a cada prato fumegante de sopa, macarrão com molho de tomate e queijo, arroz com feijão e bifes, grossos, macios e acebolados.

Notou um movimento na entrada da casa, a porta da frente se abriu e dela saíram o pai e a mãe, um casal de filhos pequenos loiros e rechonchudos e um cãozinho branquinho como a neve saltitando entre as crianças. Os pais carregavam malas, maletas e sacolas e colocavam tudo no porta-malas do carro. Acomodaram as crianças e o cachorro no banco traseiro, a mãe sentou-se no banco do passageiro enquanto o pai verificava as trancas das portas e janelas. Quando deu-se por satisfeito, assumiu o volante e partiu com a família sem olhar para trás.

Ele observou tudo à distância, longe, em seus pensamentos de tristeza e desolação. Aos poucos voltou ao seu mundo concreto e físico, com suas entranhas clamando por uma solução. A necessidade, mãe da invenção, lhe trouxe uma ideia esquisita e arriscada de pura tentação. Viu a casa vazia de gente, de vida e de donos, à sua disposição. Deu passos indecisos em sua direção, pulou a cerca baixinha, rodeou pelo corredor lateral até o quintal no fundo e quebrou o vidro da porta com um soco. Com a mão sangrando o sangue ralo abriu o trinco interno da porta e entrou pela cozinha ampla e perfumada de limpeza e frutas. Atacou ferozmente uma banana ainda verde, quase sem tirar-lhe a roupa. Chupou uma laranja e, na sequência, uma manga fiapenta. Mas a fome não aplacava. Acalmava mas não passava.

Olhou para a caixa branca enorme que ronronava baixinho. Puxou a alça da porta lentamente e sentiu o bafo frio de encontro ao seu rosto. Viu uma grande fartura de verduras e legumes, potes diversos e garrafas variadas. Estava cheia. Ele poderia passar um ano com o que tinha ali. Abriu o freezer e olhou para os potes de sorvete encantado. Percebeu um saco transparente envolvendo uma massa vermelha escura. Era carne. Retirou sem pensar o pacote da geladeira e colocou sob a água corrente da torneira da pia. Deixou-a ali até que aquele pedaço de carne, dura como uma pedra, amolecesse devagarinho e voltasse a ser macia. Pingava sangue! Ou ainda era de suas mãos que o fluido vital escorria? Não sabia. Só conseguia pensar no bife. E nas cebolas douradas que o acompanhariam. Procurou nos armários e gabinetes da cozinha alguma panela. Encontrou uma frigideira grande, bonita, marcada por milhares de frituras saborosas que alimentaram aquela família. Cortou duas cebolas em rodelas, picou dois dentes de alho, deitou fios de óleo sobre a frigideira vazia em cima de uma boca do fogão, deixou que esquentasse um pouco, jogou um bife enorme dentro. A carne gritou em contato com a chapa quente. Shhhh… Espalhou a cebola por cima da carne, salpicou sal branquinho e deixou-se invadir pelo aroma saboroso daquela combinação perfeita.

Apesar da urgência dessa fome implacável, teve tempo de raciocinar e concluir que aquilo era uma refeição e, como tal, merecia mesa posta, louças e talheres. Sacou um prato colorido e colocou sobre um guardanapo em cima da mesa ao lado de uma caneca de plástico. Encheu a caneca com um suco de uva encontrado na geladeira e despejou todo o conteúdo da frigideira, bem mal passado, no seu prato. Aspirou o perfume delicioso com imenso prazer, de olhos fechados, lembrando o tempo em que tinha um nome, amor e família. Cortou o primeiro naco de carne, espetou seu garfo e juntou pedaços de cebola, levando com cuidado até sua boca. Na primeira mordida, ouviu um barulho duro, metálico. Era a chave girando na fechadura da porta de entrada, logo depois o estalo da maçaneta e uma voz retumbante e assustadora gritando:

– Só um minuto querida! Vou confirmar se o fogão está apagado e retomamos a viagem.

Não condeno. Minha formação permite julgar, avaliar e pensar de maneira crítica, mas não condenar. Isso só pode ser feito quando calçamos os sapatos de alguém e vivenciamos sua experiência. Neste caso especificamente, tínhamos novíssimas botas de couro marrom com solas grossas de borracha de um lado, e um pé de sandália de tiras, muito gasta e ralada, do outro. Talvez porque no fundo no fundo, somos ainda animais selvagens cobertos por uma fina camada de verniz social, ou porque um pai de família, protetor dos seus, ao ver-se tomado de tamanha surpresa e atingido por uma forte descarga de adrenalina, parte para cima do inimigo perigosíssimo, franzino, esquelético e com a metade do seu peso, com tanta fúria ódio e descontrole que, ao arrastá-lo para fora de sua casa, coberto de socos e pontapés, não se dê conta, alguns momentos depois, que a multidão que acorreu ao local por causa dos gritos, batia sem parar naquele corpo inerte, já sem ar nos pulmões, com um estranho sorriso de felicidade na face encovada.

* * *

Naquele mesmo instante, saía para comemorar com a família e amigos, um ex-dirigente condenado por corrupção, libertado pelo saber jurídico e minúcias legais as quais somente os muito ricos e endinheirados têm acesso. Em um restaurante chique em Nova York, discutiam entre pratos caríssimos e vinhos de cinco dígitos, seu retorno triunfal à vida pública. Sentados à mesa com ternos bem cortados e camisas de linho brancas, de colarinhos sob medida, pavimentaram um futuro brilhante, com um discurso focado na defesa dos pobres e despossuídos, daqueles infelizes coitados que vagueiam pelas ruas do país sem ter o que comer e anseiam por um salvador que lhes dê o peixe, mas sem ensinar a pescar. Afinal, isso é muito perigoso, pois dessa forma eles podem sentir-se livres, com direito a escolher e pensar.

CaMaSa

Capitolo 6: La fine dell’inizio

Ci sono parti della storia e situazioni che non rientrano in una narrazione, a causa dei loro aspetti psicologici, complessità e drammaticità. Questo è stato il caso di mia madre che ha lasciato la sua piccola città natale con le sue due figlie. C’è molto dolore nel mondo, per quanto uno sia in grado di sopportarlo o meno. Forse ci sono dolori insopportabili, ma quello era uno con cui avrebbe dovuto convivere e, se possibile, da cui avrebbe dovuto imparare. Niente di tutto questo, naturalmente, era evidente a lei in quel momento, che navigava come la nave che la portava in America, triste, obbediente e monotona. Intorpiditi, con gli occhi aperti solo per vedere le ragazze e non perderle nemmeno per un secondo. Ma ha dormito sveglia in un sogno profondo e privo di significato.

Quando la nave guidata dai rimorchiatori colpì con un leggero tonfo le murate del porto, trasalì come uno scosso nel bel mezzo di una siesta pomeridiana e sorrise, imbarazzato, per essere stato colto in flagrante. Fece un respiro profondo, si alzò debolmente, per la mancanza di cibo che le aveva imposto, raccolse le sue cose, i bambini, e guardò per la prima volta la nuova terra che l’accoglieva. Prima di scendere le scale, allungò il collo verso il gran numero di persone ammassate sul pavimento, cercando di trovare un volto familiare. Non ha visto nessuno!

Ma c’erano dei conoscenti laggiù che li aspettavano. Mio padre ei tre cugini di mia madre: Pasquale, Nicola e Domenico, che all’epoca faceva il tassista. I quattro stavano in agguato ansiosi, fumando a lungo. La folla faceva un rumore infernale di voci, urla e lacrime. Ci furono riunioni e addii infiniti, un’ondata di emozioni che fece salire e scendere la gigantesca nave. Gesticolavano nel tentativo di farsi capire ma era quasi impossibile, tanta era la gente presente. Mio zio Pasquale ebbe l’impressione di vederli scendere le scale e, con il suo grosso corpo che misurava oltre 1,90 me pesava 140 kg, si fece strada tra la folla, seguito dagli altri tre. Raggiunsero il bordo del molo e videro mia madre, le figlie, due valigie e due grossi fagotti di stoffa. Mio padre si è congelato!

Mia madre scendeva spaventata per le scale pericolose e traballanti, armeggiando con le due ragazze e i loro bagagli. I passeggeri affollati si spintonavano l’un l’altro con impazienza, ansiosi di superare il calvario. Una signora, pochi gradini più in basso, è inciampata e si è scontrata con due uomini davanti a lei, facendo cadere in acqua una piccola valigia. Cominciò a piangere e imprecare, maledicendo il suo destino, la sua vita e la sua morte! Due marinai a terra hanno cercato di aiutare, cercando di issare la valigia con canne di bambù con ganci metallici alle estremità. In mezzo alle scale, in mezzo alla confusione, in mezzo a tutto, mia madre ha visto i suoi cugini. Ha avuto un triste momento di gioia e li ha salutati.

Quando finalmente toccò terra, si gettò esausta tra le braccia delle cugine, distribuendo figlie e bagagli, senza accorgersi del marito accanto a loro. Quando lo vide, si spaventò! Era magro, scuro, abbronzato e calvo, completamente calvo… Provò un misto di rabbia e pietà, quasi perdonandolo proprio lì. Ma no, c’era molto da chiarire, molto dolore da lavare via, molte ferite da guarire. Non era lì, in quel momento, che le cose si sarebbero dette e sputate. Ha rimuginato su di loro per 4 anni, avrebbe saputo il momento migliore per lanciarli in faccia a mio padre. Questo sembrava euforico e perso, non sapendo se stava abbracciando una figlia, baciando una valigia o portando l’altra figlia. Aveva il bisogno di parlare, di sentire, di vivere di nuovo e di essere se stesso. Cercò di controllarsi e apparire naturale che lo sguardo duro di sua moglie non gli permetteva. Mani toccate. E così è stato! Avrebbero avuto 65 anni davanti a loro per giungere a una conclusione, ma prima che nella pentola si bruciasse troppa salsa, troppi piatti si schiantassero contro i muri, troppi errori sarebbero ripetuti e troppo perdono sarebbe stato concesso.

A singhiozzi raggiunsero il taxi, una Chevrolet del 1955 spaziosa e ragionevolmente comoda che ospitava cinque adulti, due bambini ei loro bagagli. Si sono lasciati alle spalle il trambusto del porto e si sono diretti verso Serra do Mar. Suonava molto familiare a mia madre, ricordando la scalata sulla montagna fino a Felitto, il suo paesino, ormai così lontano. Ma arrivando in cima, l’impressione è completamente cambiata con la vista del gigantesco altopiano di San Paolo, che terminava molto lontano all’estremità dell’orizzonte, unendosi al cielo. Ed è cambiato molto di più, mentre si avvicinavano a San Paolo, a causa delle dimensioni incomprensibili, del traffico intenso, del fumo delle macchine e dell’aria calda, assurdamente calda. Ha chiacchierato per tutto il tragitto, distribuendo notizie e ricordi di tutti quelli che l’avevano raccomandata, evitando così un colloquio più diretto con il marito. Mia sorella Rachele dormiva come un angelo, mentre la piccola Grazia era profondamente irritata da questo strano uomo, che la teneva tra le braccia e insisteva per chiamarla sua figlia.

La macchina li ha lasciati in Rua do Oratório, a casa dei miei zii Antonio e Rosa. Le ragazze si sono unite alle cugine, Carmine e Nena, mentre gli adulti si sono occupati di questioni pratiche, urgenti e necessarie. La casa era piccola e ospitare due famiglie avrebbe richiesto un po’ di ingegneria e molta buona volontà. La notte scese velocissima e si sparpagliarono come meglio potevano, tutti certi che sarebbe stato solo per poco tempo. La situazione era comoda per mia madre, perché così non c’era spazio per una conversazione tra i due.

Vi rimasero 12 giorni, abusando della paziente gentilezza dei loro ospiti, finché, in una soluzione piuttosto disperata, si diressero verso la lontana Lapa, lontana da tutto e da tutti. La piccola casa non ammobiliata era un accordo improvvisato tra mio padre e un cliente. Aveva un letto di fortuna per la coppia e un materasso di assi per le ragazze. C’era un tavolo traballante, due sedie e due sgabelli, un lavandino, e basta. Non aveva fornelli. Erano arrivati ​​dall’Italia il 7 dicembre 1955, era già il 20 e mancavano pochi giorni al Natale. Mio padre partiva per lavoro all’alba, tornava di notte. Senza parlare una parola di portoghese, riusciva come meglio poteva a sfamare le sue figlie, ma se negli ultimi anni aveva temuto le difficoltà che il nuovo mondo avrebbe portato, ora le soffriva profondamente nelle ossa. A prima vista, le infinite spiegazioni, le scuse giustificazioni e le promesse di una vita totalmente dedicata a lei e alle figlie del marito erano quasi accettabili.

Il 24 dicembre, sola e desolata, venne a trovarla mia zia Rosa con i due bambini e la sua pancia già voluminosa, portando con sé il mio futuro cugino Claudio. Ha portato del cibo e della speranza. Ai restanti formaggi e farina del viaggio aggiunsero olio e riso, improvvisarono un barattolo di latta e carbone come fornello e prepararono un pranzo di Natale in una calda notte d’estate, completamente diversa da quelle fredde della loro terra. Arrivò mio padre accompagnato da mio zio Antonio e, sorpresi, andarono a bere birra e bibite. Si sentivano tutti tranquilli e dormivano in quella casa con la certezza che i miei genitori, al più presto, avrebbero trovato un posto dove vivere a Mooca. Pochi mesi dopo, trovarono una camera da letto e una cucina in un cortile sulla stessa Rua do Oratório, vicino a mia zia e mio zio. Rimasero lì fino al 1957, quando si trasferirono in Rua Guaimbé, in Avenida Paes de Barros.

Faustina finalmente ha ceduto al fascino di Pasqualino! Naturalmente, questi incantesimi erano accompagnati da molto rispetto paziente, buon comportamento e atteggiamenti di un padre esemplare. Lei lo accolse tra le sue braccia e, guardandosi profondamente negli occhi, poterono vedere le loro essenze, sentire di nuovo i suoni della loro terra, i profumi ei sapori, con passione.

In quello stesso anno, il 1957, avvenne un comune miracolo, di quelli che cambiano per sempre le sorti dell’umanità. Dio (e uso questa parola qui solo come riferimento, poiché ha un significato diverso per ognuno), il Creatore, la Creazione stessa, quella potente Energia, quella Forza infinita, l’Inspiegabile, che tu ci creda o no, lo adori o dubitatene, il Tutto o il Niente, ancora una volta Dio ha deciso che era tempo di visitare gli uomini, camminare in mezzo a loro, incarnarsi, vedere e sentire, sentire sete e fame, freddo e caldo, dolore e amore per capirli. È venuto in forma umana, senza memoria di sé, senza poteri speciali, solo uno sguardo profondo e una lucidità, di azione e di risultato, cristallina, per ricondurli alla Pace dei loro cuori.

E il 27 aprile 1958 sono nato.

CaMaSa

Capitolo 5: Le acque rotoleranno…

Durante il viaggio in nave verso il Brasile, mio ​​padre conobbe molte persone, provenienti da varie parti del mondo, venute a provare la vita in Sud America. Erano per lo più italiani e spagnoli, ma si potevano trovare anche portoghesi, tedeschi, turchi, greci e russi. Una moderna babele di 15 giorni, dove per alcuni giorni ha regnato uno spirito di cameratismo e collaborazione, imposto dalle condizioni della traversata e dall’impossibilità di sfuggire alla nave in alto mare. Quindi furfanti, di qualsiasi lingua, mantenuti entro i confini della legge di bordo. Gli innocenti, tesi e preoccupati all’inizio, si sono rilassati col passare del tempo e gli splendidi paesaggi hanno sfilato nelle sfumature del profondo blu dell’oceano e del cielo blu infinito.

C’era una specie di pasto per gli strati inferiori dei passeggeri, integrato da ciò che ciascuno portava dalla propria terra nel proprio bagaglio. Erano gli ultimi sapori di un tempo lasciato alle spalle. C’erano anche feste e cene di lusso e abbondanza ai piani superiori, dove i passeggeri facoltosi si divertivano alla presenza del capitano della nave e del suo equipaggio, ma erano separati dagli altri da catene e da guardie ben addestrate.

Tra i compagni di viaggio, mio ​​padre fece amicizia con un loquace siciliano, forte e tarchiato, con i capelli divisi in mezzo, tenuti fermi da una brillante gomma profumata di agrumi. Si chiamava Giuseppe Dalmonti, e la sua abilità con le parole era simile alla sua performance in bicicletta. Aveva fatto più volte il percorso attuale, facendo sempre affari a lui vantaggiosi. Questa volta aveva con sé una bicicletta luccicante, di cui mio padre si è subito innamorato. Tra un viavai e l’altro in coperta, il siciliano prese dalla tasca gli attrezzi più preziosi di mio padre, due camicie, un paio di calze e l’ultimo spicciolo. Gli ultimi sono rimasti anche con l’autista della Ford 46, che ha portato la byke su per la montagna!

Mio padre alloggiava in una pensione in Rua Pamplona, ​​molto vicino all’Avenida Paulista, che a quel tempo, nel 1951, era occupata da bei palazzi. Era un paesaggio bucolico, così pacifico da sembrare quasi rurale, ma era sull’orlo di un vigoroso salto di sviluppo, capace di catapultare la città al rango di città più grande del Sud America in pochi decenni. Una pietra miliare è stata la demolizione del bellissimo Belvedere, per far posto alla costruzione del MASP, il Museo d’Arte di San Paolo, e delle sue linee moderne e ardite, frutto della mente rivoluzionaria e creativa di un’oriundi, Lina Bo Bardi.

Tra gli italiani che hanno approfittato di questa impennata evolutiva c’era Sabbato Minella, mentore e maestro del mestiere di mio padre in patria. La sua falegnameria si trovava nella stessa Pamplona e ha approfittato della vicinanza al MASP per assumere diversi servizi di falegnameria. Le lettere che inviava ad amici e parenti in Italia incoraggiavano molti paesani, che venivano qui con la certezza di trovare un lavoro garantito. Di temperamento forte e autoritario, pretendeva il massimo dai suoi subordinati, dai primi raggi di sole fino al calar della notte, dal lunedì al sabato. Restavano la domenica e le gite in bicicletta lungo il Trianon, dove i più giovani si esercitavano a trottare tra i vicoli del parco. Ma era piccola, e presto ne sarebbe stata inaugurata un’altra molto più grande, adatta alla grandezza della città. Il Parco Ibirapuera, con i suoi imponenti 158 ettari, sarebbe stato inaugurato nel 1954, ma valeva la pena visitarlo durante il periodo di costruzione.

In quello stesso 1954 arrivò in Brasile mio zio Antônio, pittore, incoraggiato dal fratello. Si stabilì nel quartiere Mooca, più precisamente in Rua do Oratório. Circa 8 mesi dopo, la sua bella Rosina, mia zia Rosa, ha fatto il viaggio qui, con miei cugini Cármine e Antonieta. In quel viaggio c’erano anche i genitori ei fratelli di mia zia, che continuarono il loro viaggio verso sud, diretti a Buenos Aires, in Argentina. Abbracci lunghi e stretti separavano mia zia dagli suoi, che doveva scendere da sola le scale della navata, con i suoi due figli. Nel porto di Santos, vedere i suoi parenti partire con la nave gli è costato alcuni anni di vita e di salute. Si è sentita impotente per qualche istante e si è calmata solo quando è stata abbracciata da mio zio. Sfoggiava ancora i capelli ben pettinati all’indietro ei baffi sottili, alla Vincent Price.

Erano il rifugio sicuro di mio padre, lo tenevano lontano dai problemi e dai pericoli di un paese sempre più cosmopolita, disposto a far parte dei progressi e della modernità del dopoguerra. Ma erano lontani, a Mooca, e lui aveva un mondo da conquistare, dallo sperone di Paulista fino al Jardim Europa, dove risiedevano potere e ricchezza. Oltre alle ragazze più belle, con abiti colorati, capelli dal taglio moderno e sigaretta in una mano e bicchiere nell’altra, sedute allegramente nei bar che si estendono lungo i marciapiedi della regione. Ha iniziato a fumare! Poi bere. Divertendosi, come se non avesse impegni e responsabilità, come uno spaesato al mondo, senza famiglia. Come cantava la canzone di Carnevale dell’epoca:

Le acque rotoleranno
Bottiglia piena che non voglio vedere a sinistra
Faccio scorrere la mia mano attraverso il cavatappi, cavatappi,
E bevo fino ad annegare
Le acque rotoleranno…

A mio zio non piaceva quello che vedeva e cercava sempre di consigliare suo fratello. Nonostante fosse più giovane, era più consapevole, sapeva bere e conosceva i propri limiti. Oltre ad essere vegliato da mia zia che, nonostante fosse piccola, era molto energica. Litigavano anche, come litigano i fratelli di fronte ai rischi imminenti a cui è soggetto l’uno o l’altro, ma il vuoto che viveva mio padre in quei giorni non poteva riempirsi solo di consigli e di lavoro. Così, tra le tante passeggiate e carnevali, conobbe diverse ragazze, una di queste Bernarda, che era la compagna di una ricca signora di Jardins. Quello che per lui era un hobby, divenne serio per la ragazza che, illusa, se ne innamorò perdutamente, sognando di sposarsi. Ha anche cercato il parroco della chiesa di São José Operário, per un consiglio e per chiedere informazioni sulle date disponibili per una cerimonia. Il parroco, amico di famiglia, fedele e assiduo collaboratore della santa chiesa, si rivolse alla matriarca per spiegare la situazione e collaborare a quanto fosse necessario. Gli ha chiesto di conoscere in qualche modo il reale stato civile del ragazzo in Italia, con conseguenze molto drammatiche.

Niente che non le avesse già chiarito. Non voleva impegno, solo amicizia e compagnia. Il Carnevale del 1955 si avvicinava e lui aveva altri progetti…

CaMaSa